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"JORNAL DO BRASIL" - 24 de fevereiro de 2003
ONGs ampliam perfil de adoções
Florença Mazza - Especial para o JB
Nos últimos 10 anos, 296 crianças acima de dois anos, negras ou com necessidades especiais, foram adotadas no Brasil e outras 11 que se encaixam neste perfil encontram-se em processo de adoção. Pode parecer pouco, mas os números apontam para uma tendência: o crescimento das adoções tardias e inter-raciais. A mudança é fruto de uma transformação cultural que vem sendo trabalhada pelo Juizado da Infância e Juventude, grupos de apoio à adoção e instituições como a Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH), que lançou na última sexta, no Rio, a cartilha Colocação familiar.
Psicólogo da ABTH, Fernando Freire afirma que essa mudança no perfil das adoções começou a partir da introdução do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, e foi intensificada nos últimos seis anos.
Os pais queriam imitar aquilo que a biologia não lhes possibilitou. Logo, procuravam apenas bebês recém-nascidos, à sua imagem e semelhança - explica o psicólogo.
Como a maioria dos pais em busca de filhos adotivos era branca, as crianças mais velhas e negras sempre tiveram mais dificuldades. Fernando explica, porém, que, gradualmente, percebeu-se que o papel da adoção era o de atender necessidades da criança, não dos pais.
- Hoje, as famílias que pretendem adotar alguém já percebem que as crianças que esperam por adoção são as maiores, institucionalizadas e portadoras de deficiências - acrescenta Fernando.
Prova desta mudança refere-se às adoções internacionais no município do Rio. O juiz da 1ª Vara da Infância e Juventude, Siro Darlan, afirma que, na primeira metade da década passada, crianças a partir de 2 anos só eram adotadas por estrangeiros. Hoje, as adoções internacionais acontecem a partir dos 4 anos, o que indica que os brasileiros estão selecionando também crianças mais velhas.
- Este tipo de adoção tem crescido. Na última quinta, um menino de 16 anos, negro, foi adotado por uma família branca - conta Siro.
Segundo Fernando, 23% das adoções legais hoje são inter-raciais. Que o digam o engenheiro Mauro Cruzeiro e sua esposa Rosane, ambos de 39 anos. Além dos dois filhos biológicos que têm, o casal adotou duas crianças: Paulinho, um adolescente negro, de 14 anos, na época com cinco; e Ivanaldo, adotado com 9 anos e hoje com 11. Ambos sabem que foram adotados e mantêm contato com suas famílias biológicas. Ivanaldo, que por maus-tratos sofridos quando criança tem tamanho de um menino de seis anos e acaba de se alfabetizar, recebe tratamento psicológico e faz fonoaudiologia.
- Nós trabalhávamos em instituições beneficentes e sempre planejamos ter filhos adotivos. Hoje, vemos que todos ganharam com isso - conta Mauro.
Processo foi simplificado
Fila tem 180 interessados e 56 crianças à espera
Apesar de o aumento das adoções inter-raciais e tardias, os bebês ainda são a preferência da maioria das famílias em busca de filhos adotivos. No município do Rio, das 3.200 crianças que hoje vivem em abrigos, 56 estão à espera da adoção, 80% têm mais de 10 anos de idade e os outros têm problemas graves de saúde, como o vírus HIV. A mais nova, segundo o juiz Siro Darlan, tem 5 anos.
Paralelamente, 180 pessoas aguardam na fila para adotar uma criança.
- É um número falso, que não me deixa alegre mas preocupado. Todos deviam estar aptos a adotar qualquer criança, mas são pessoas preconceituosas, que querem bebês recém-nascidos e brancos - lamenta o juiz.
Para Siro Darlan, campanhas de sensibilização para a adoção de crianças mais velhas e de desmistificação do processo ajudariam a mudar este quadro.
- Ao contrário do que muitos pensam, não é difícil adotar. A única burocracia está na cabeça das pessoas - dispara.
Para o psicólogo Fernando Freire, é preciso estimular a reflexão - seja pelos meios de comunicação, livros didáticos ou grupos de apoio - do verdadeiro papel da adoção no país. Ele credita boa parte desta mudança cultural aos mais de 70 grupos de apoio espalhados pelo país.
- São estas entidades que estão formando novos e futuros adotantes, que já incorporam este novo conceito em relação ao tema - afirma Fernando.
consulte o site abaixo
www.terradoshomens.org.br